sábado, 5 de janeiro de 2019

Muito obrigado, No Mundo das Umbandas...


Aos amigos e leitores. 

Desde o início de 2015 quando iniciei as publicações aqui no blog, minhas maiores expectativas eram produzir um conteúdo original, de "qualidade", mas, sobretudo, representante de uma voz dentro desse universo tão complexo que é o da Umbanda. "Complexa", pois é incompreendida, confundida e discriminada. Daí a necessidade e até a utopia juvenil, em tentar representá-la.
Assim, o que convencionamos chamar Umbanda, têm ao longo de sua breve história muitos fatos relevantes e contribuidores que merecem ser lembrados, cada qual a sua maneira ou cultura. A bandeira de Oxalá que leva a "caridade" sem distinguir qualquer condição humana, deve ser preservada. Entretanto, talvez o maior desafio em preservar esse ponto fundamental, seja pensarmos para além dos atendimentos gratuitos. Devemos preservar o direito de escolha das pessoas, respeitá-las e entender os múltiplos caminhos possíveis, fazer-se compreender que dentro de tantos caminhos possíveis e válidos, aquele ofertado é só mais um.

Não é tarefa simples desenvolver e administrar um espaço de produção que tenha responsabilidades com tais propósitos. Ainda mais daqueles com conteúdos próprios, não meros copiadores. Pesquisar, elaborar um planejamento de textos, produzir os escritos, revisar, publicar, redirecionar aos canais das redes sociais, interagir com feedbacks dos mais variados, enfim, ter toda uma carga de trabalho que não é simples tampouco fácil. Que se registre, sem monetizar o espaço e com audiência cem por cento orgânica.
Por isso, decido a partir desta postagem encerrar o trabalho deste blog. 
Agradeço aos leitores que seguem o blog, aos amigos, às parcerias culturais com editoras do ramo, os parceiros de outros blogs com quem troquei ideias e opiniões, enfim, ao tempo de grandes aprendizados construídos por aqui. Com este, são setenta (70) posts que me orgulho de ter conseguido produzir sobre a Umbanda. Manterei o blog na rede para preservar o acervo, torcendo para ser de bom proveito aos leitores e pesquisadores.

Outros projetos estão se desenhando, espero conseguir continuar em minhas tentativas como pretenso produtor de textos. 
Mais uma vez, muito obrigado NO MUNDO DAS UMBANDAS! 

Felipe Matos    
                   

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

DITADURA DO CRISTIANISMO




Por Felipe Matos.
Editor.

Apesar de crer nos fenômenos da espiritualidade e na Umbanda como um dos "canais de condução", devo esclarecer que antes de tudo, sou cidadão brasileiro. Minhas construções subjetivas são oriundas das experiências vivenciadas no mundo material, dos contextos históricos e culturais aos quais fui submetido até o momento.  Não acredito na Umbanda somente como expressão religiosa,  acredito  também que Ela expresse um simbolismo sobre os fenômenos sociais do país, representando profundamente parte da identidade cultural do Brasil. Por isso, ALERTO meus amigos e leitores que este texto representa um posicionamento político, onde qualquer cidadão  religioso ou não tem o DIREITO de realizar. Aos que preferem textos doutrinários com conceituações sobre os ritos, pesquisem neste espaço, existem boas alternativas.

A religião (meio de ligação do homem com o sagrado ou sobrenatural) tem aspecto "neutro" em nossa constituição, ou seja estão dissociados quaisquer privilégios, perseguições ou restrições de base legal. A garantia e o estabelecimento à meios de coexistência entre todas as manifestações, às liberdades de culto, de expressão e associação são questões fundamentais à normalidade democrática e devem ser preservadas. Para quem ainda possa ter dúvida quanto essa condição, consulte aqui o Art. 19 da Constituição Federal de 1988. Se preferir refletir um pouco mais, recomendo esse interessante artigo ( Espiritualidade no Estado Laico - por Alexsandro M. Medeiros).
Outro aspecto importante de ressalvar liga-se às "estruturas", "setores" ou "instituições" sociais. É licito que organizações existam, que pessoas se associem por afinidades, interesses, ilusões utópicas ou simplesmente por fé. Entretanto, cabe-nos identificar e estabelecer definitivamente que fazemos parte de uma pequena "célula" constituidora de um organismo muito maior. Em outras palavras, quando saímos de casa para expressar/praticar nossa fé estamos produzindo um ato em sociedade, logo, sabermos até onde podermos ir e até onde podem ir conosco é o mínimo para convivência pacifica. Mas se ainda estiver com dificuldade de assimilação, este outro  pertinente artigo (Estrutura Social - Instituições Sociais) pode ajudar.
Agora apenas para finalizar esta introdutória também é conveniente que entendamos o real significado ou sentido da expressão "instituição religiosa". Se escolhermos a sociologia para analisar o tema, veremos que a religião está na classificação de "Instituição Reguladora", ou seja, é por base, essencialmente uma construção humana ao longo do tempo que "regula" - "controla" - "conduz"- "governa" - "estabelece" a vida de indivíduos. No caso da religião ela também responde aquilo que materialmente não temos respostas. Por isso, geralmente preenchem vazios oportunizando a vazão da fé. Fé em crenças, dogmas, tradições, comportamentos sociais e sobretudo, da criação de subjetivação do pensamento.
Deste modo podemos afirmar que ser religioso é entre tantas especificações envolvidas, um ato de posicionamento político também, de enquadramento por um perfil sociocultural. Dos pensadores sociológicos, interponho Marx e Weber. Talvez suas contribuições indiquem mais explicitamente que as religiões também são instituições políticas. Em Durkheim não menos importante, temos o entendimento entre o que é social e religioso, do ponto de vista simbólico da vida em sociedade.

..."A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. [...] A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de situação sem espiritualidade. Ela é o ópio do povo. (MARX, 2010)"...
  ..."Surgiu uma ética econômica especificamente burguesa. Com a consciência de estar na plenitude da graça de Deus e visivelmente por Ele abençoado, o empreendedor burguês, desde que permanecesse dentro dos limites da correção formal, que sua conduta moral estives se intacta e que não fosse questionável o uso que fazia da riqueza, poderia perseguir seus interesses pecuniários o quanto quisesse, e sentir que estava cumprindo um dever com isso. Além disso, o poder do ascetismo religioso punha lhe à disposição trabalhadores sóbrios, conscienciosos e extraordinariamente ativos, que se agarravam ao seu trabalho como a um propósito de vida desejado por Deus. (WEBER, 2007)"...
Após entendermos os conceitos de religião, Estado laico, instituições sociais, instituições reguladoras e analisarmos a religião por elucidações dos pontos de vistas de alguns dos principais pensadores da sociologia, começamos a compreender ser necessária uma autocrítica para o exercício cidadão da fé. Ponderações sobre o caminho que estamos percorrendo precisam ser emergencialmente pensadas. Analisarmos se a conjuntura da "colonização cultural", neste caso, não mais só a judaica-cristã-católica mas preponderantemente as contundências protestantes tradicionais, pentecostais e neopentecostais
Sem meias palavras, caminhamos aceleradamente para a consolidação de um Estado Cristão. Não me refiro a tradicionalidade do Brasil que por muito tempo está ponta das pesquisas estatísticas entre fiéis. O Estado Cristão ao qual me deparo, é o discurso político, moral e cultural que cultiva o consciente coletivo no momento. Disseminado por redes sociais como remédio aos males da convulsão social e política que atravessamos. A não ser que o terrorismo midiático/tecnológico há muito tempo em marcha, tenha forjado esse quadro equivocado (?) em nosso sistema de "crenças" sociais. Minha indignação não é somente com grupo político vitorioso no último pleito nacional, a medida que grupo perdedor são representantes de valores duvidosos e populistas, para ser bem transigente. Então, antes que me enquadrem nos rótulos disponíveis, previno-vos, minhas preferências estão entre as mais estritas democráticas, ao passo que nunca poderia apoiar os grupos que se apresentaram no segundo turno. Os flagrantes declarados antidemocratas e, àqueles que fazem de conta lutar pela sobrevivência da democracia.
Irrefutáveis são as históricas construções da cultura ocidental, tal como, por vários pertencimentos, somos partes constituintes. Entre essas elaborações, a religiosidade marca profundamente a formação de nosso povo e, através dela, algumas das mais nefastas práticas foram afirmadas como desígnios divinos. Tentarei por breves tópicos elucidar o atento leitor de um retrospecto histórico/cultural da ditadura cristã em nosso inconsciente coletivo.

Importante observarmos que as referencias deste texto não são apologéticas, difamatórias ou generalistas. A função aqui é outra e bem canalizada. Até para os mais radicais anticristãos ficaria muito difícil defender que, todo e qualquer cristão (nesse caso refiro-me aos fiéis), se prestaria a apoiar alguns dos poucos exemplos aqui utilizados, ao contrário, para que empreendimentos destas envergaduras ocorram muita manipulação de discursos e práticas - das massas - precisam ser executadas. Se o atento leitor pesquisar minimamente, encontrará um referencial pequeno é claro, sobre os setores ligados ao cristianismo que condenaram os empreendimentos.
Outros temas ficaram de fora, a medida que o objetivo é por via das amostras elucidar aquilo que convenciono chamar de Ditadura do Cristianismo. Entretanto, salientar a questão do pecado para amedrontar, da concepção de "família tradicional", dos "bons costumes" contra a cultura da corrupção, da demonização de ideologias progressistas ou de esquerda contrárias às pautas ultraconservadoras, porém, necessárias ao "jogo" do ambiente democrático e por fim, talvez a mais negativa, vitimização de um processo midiático para "calar" a voz dos "eleitos pelo altíssimo". 
Serão tão indiscutíveis assim todos os argumentos apresentados pelo corpo político bíblico? Os "eleitos" do senhor realmente possuem toda a graça da transformação e salvação  pelas suas opções de fé e de construção subjetiva? São convicções da fé, somente dela, a demonização do pluralismo político-ideológico tão necessário às democracias? É justo e licito que por coesão político-partidária, setorista e parcial uma fração da sociedade tenha que abdicar de princípios constitucionais? Enfim, quanto mais me pergunto, menos consigo encontrar respostas. E as respostas não aparecem, simplesmente porque todo o cenário desfavorece. Analisemos as conjunturas...
O Presidente da República além de administrar a economia, nomear ministros, decretar leis e procedimentos, desenvolver relações internacionais, praticar os planos estratégicos do governo e exercer o comando das forças armadas entre tantas outras coisas, deve REPRESENTAR e MEDIAR os conflitos que no caso brasileiro representa um universo multifacetado de culturas, filhas da miscigenação. Ou seja, presidir é tarefa de pessoa com espírito REPUBLICANO. Presidir está longe de concorrer a presidência, na disputa, por mais que não me pareça lícito, a radicalização do discurso é alternativa para o ganho de votos, porém, o exercício do mandato deve ser pautado em práticas universais (lógico que não me refiro às das Igrejas).
Não estou aqui para debater se o vídeo das declarações X,Y ou Z são falsas ou foram utilizadas fora de seus contextos, disto o período eleitoral tratou. Minha maior preocupação é com a representação do conjunto de valores do candidato eleito, das maiorias eleitas para as bancadas nas câmaras federais e estaduais, logo, com o projeto de primeiro escalão do governo que se anuncia, visto quer até com juiz salvador da pátria, está no time. Quando nos deparamos com o discurso pós eleição, na primeira "coletiva improvisada" a fala inaugural foi: "fui escolhido por Deus", após um mini-culto em rede nacional. Quarenta e oito horas depois, estava no púlpito de seu Pastor, veja aqui, profetizando que a bíblia "conserta" o ser humano e o leva para a "verdade da vida". Ora e se não acreditarmos nela, como fazemos? Não podemos deixar de registrar, que no mesmo cerimonial, a retórica da sedução a favor do conceito de Estado Laico esteve presente, salientada pelo nome de Jesus!
É licito que até o Presidente tenha sua orientação de fé, mas que os discursos sobre esses valores se restrinjam à ele, sua família, amigos e aos círculos onde professa sua fé, não à todos da nação como receita de felicidade ou de triunfo sobre os derrotados politicamente. Muito menos como discurso institucional. Não esqueçamos que a Política assim como a Religião são construções humanas...
Pensar que o arbítrio político e anticonstitucional poderá vigorar como antes em nossa história, não creio. Mas, como o populismo caudilhista da pseudo esquerda vigorou em detrimento de direitos fundamentais, para o aprimoramento da consagração dos esquemas corruptos e das grandes fortunas, penso, que a Ditadura do Cristianismo têm a mesma face da moeda (Legitimada pelo discurso que produz prática social-cotidiana nas pessoas de forma ilusória). A estratégia foi bem estruturada, até o caudilho foi produzido, bem como um sincrônico conjunto de "medidas". Abaixo algumas poucas, porém flagrantes:  
  • Produziu um salvador (melhor dizendo MITO); 
  • Estigmatizou o satanás em todos àqueles que se opõem de suas ideias políticas (como o Santo Ofício contra os hereges), como as ideologias de centro e esquerda;
  • Desconstrói e relativiza conceitos históricos que por rigorosos métodos científicos são apresentados; 
  • Idealiza na sociedade a "família tradicional brasileira" (quando a realidade histórica do país nos revela outras alternativas); 
  • Coercitivamente quer produzir o terror na atividade docente (a única historicamente reconhecida como o alavancadora das maiores nações do mundo, e no caso brasileiro, já possui garantias constitucionais de manifestação dentro ou fora do ambiente escolar); 
  • Produz a narrativa de desvio patológico aos seres humanos, LGBTs, que poderiam ser corrigidos mediante tratamentos;  
  • Aderiu ao politicismo do judiciário com a nomeação antecipada do "im"parcial salva pátria brasileiro; 
  • Trata remanescentes de comunidade quilombolas e indígenas desrespeitosamente deslegitimando seus contextos culturais/sociais/econômicos/históricos; 
  • Induz o trabalhador brasileiro pensar que ele é um "fardo" para as organizações e para os governos. 
  • Propõe política nacionalista as avessas, quando anuncia a venda dos maiores ativos nacionais para o capital estrangeiro, nacionalizando nossos recursos em outros países.   
São com esses valores que majoritariamente teremos que lidar nos próximos quatro anos, ou seja, com o discurso antes de tudo que legitima a prática social daqueles que cegamente acreditam nos salvadores. Na política ser cristão, budista, pacifista ou armamentista não é sinônimo de honestidade e competência. A política que construímos, dizem a maioria, infelizmente, não é legal nem ser discutida pois afinal são todos corruptos, não é mesmo?
É por pensarmos assim que grupos como este (os salvacionistas) e outros que já chegaram ao poder e nos comprometem a existência, a língua, os costumes, as roupas, o Deus ou deuses, os meios de locomoção, aquilo que estudamos, onde e como moramos, como nos deslocamos e sobretudo, os pré conceitos que criamos para aceitar tudo na mais absoluta tranquilidade como, desígnio divino, de uma obra cem por cento humana.       
No caso da Umbanda como expressão da religiosidade brasileira, provavelmente assistiremos mais uma acentuada evangelização em detrimento dos elementos ameríndios e africanos, como antes, num passado não tão distante, produzimos. Talvez, o que importe mesmo é continuar vivo e ser tolerado. Respeito... Este tal, deixemos para outra reflexão...
           
Glória a Deux!                         
                   
                
*todos as referencias deste texto (artigos científicos, matérias jornalísticas, indicações de livros, portais e vídeos)  estão linkadas. São materiais de apoio ao tema proposto.


               

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Livros para umbandistas iniciantes #02


Em março de 2015, publiquei aqui no Blog No Mundo das Umbandas uma lista de indicações literárias que partiam das conclusões pelo contexto ao qual estava submetido. Troca de ideias com amigos, com colaboradores direto do blog, das leituras que realizei naquele período me fizeram convergir para formulação da lista apresentada e que aproveito o espaço para convidar os leitores a conhecerem… (Indicações para leitores umbandistas iniciantes)
A ideia de elaborar indicações literárias é sempre muito injusta. A medida que quem as faz, fica sujeito a deixar prevalecer suas preferências, corre o risco absurdo de não anotar alguma obra fundamental ao conhecimento dos neófitos e de se deixar levar por grupos de hegemônicos do meio editorial, presentes pelos múltiplos artifícios da dominação de mercado, impondo-nos suposta predominância qualitativa.

Naquele outro artigo, fiz também um “alerta” ou “esclarecimento” quanto focarmos nossa formação como “leitores” ao perigoso mundo digital. Os livros, infelizmente, estão subalternizados pela tecnologia da informação. Ainda vejo o quadro desta maneira. É necessário, principalmente quando estudamos a Umbanda, ampliarmos o leque de nossas pesquisas, buscar inclusive referências de outras áreas do conhecimento para aumentarmos o nível de criticidade sobre a racionalização de nossa fé. E que se registre, para o próprio bem dela…
Agora aqui pela revista, farei nova tentativa. Manterei a estrutura das categorias que elenquei, indicando alguns dos livros fundamentais para compreender um pouco da história, cultura e desenvolvimento social de nossa religião. 
Espero que seja de bom proveito a todos.    
      
Históricos: Conhecer aspectos históricos são de fundamental importância neste processo, seus autores trazem um imenso referencial teórico de base para consultas posteriores. Há também os livros históricos que foram editados nos primórdios do surgimento da Umbanda.

     No Mundo dos Espíritos. Autor - Antônio Eliezer Leal de Souza.
     O Espiritismo, a Magia e as Sete linhas de Umbanda. Autor - Antônio Eliezer Leal de Souza.
     Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda. Editado pela      Federação Espírita de Umbanda em 1942. Domínio público.
     História da Umbanda.  Autor - Alexandre Cumino.
     História da Umbanda no Brasil, todos os volumes. Autor - Diamantino Fernandes Trindade.
     Das Macumbas á Umbanda. Autor - José Henrique Motta de Oliveira.

Doutrinários: São inspirados por Guias e Mentores através de psicografia ou são frutos de pesquisas e vivências internas de terreiro, são ótimos esclarecedores dos conceitos e fundamentos litúrgicos existentes na Umbanda.

     Umbanda Pé no Chão. Autor - Norberto Peixoto.
     Rosa Branca de Umbanda. Autor - Rogério Golembieski.

     Conhecendo a Umbanda: Dentro do Terreiro . Autor - Douglas Rainho.


Romances: São psicografados e possuem enredos reflexivos, explicativos e conscientizadores, trazem pontos de vistas narrados por espíritos que viveram as situações adversas às nossas. São ótimas opções!

     Guardião da Meia-Noite. Autor - Rubens Saraceni.
     Diálogo com o executor. Autor - Rubens Saraceni.
     Tambores de Angola. Autor - Robson Pinheiro.
     Aruanda. Autor - Robson Pinheiro.
     Corpo Fechado. Autor - Robson Pinheiro.
       Zé Pelintra: Seo Dotô,Seo Dotô! Bravo sinhô! Autor - Mizael Vaz.




OBS.: Esse texto foi elaborado como parte de uma colaboração para o    projeto Revista do Leitor Umbandista, 3ª edição - Agosto/2018, em conjunto ao Blog do Leitor Umbandista.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Moral e Ética na perspectiva da Umbanda.







Na edição anterior, minha colaboração foi uma tentativa de estabelecer paralelos entre Umbanda e Filosofia. Certo que particular, generalista e de modo simplificado, pois, a medida que as conexões entre os temas existem, também podem ser inúmeros os caminhos para suas demonstrações. Naquela ocasião o intuito era formular “direções” ou “pistas” de como desenvolvermos, reflexões e estudos, tendo como base a filosofia para ferramenta de análise da cultura religiosa umbandista.
Para tanto, entendo, outros temas devem ser explorados. Opto por, Ética e Moral, na perspectiva de serem conceitos de bases da estruturação que arregimenta a Umbanda.
Sobre a moral, podemos encontrar:

 ...“Em um sentido amplo, sinônimo de ética como teoria dos valores que regem a ação ou conduta humana, tendo um caráter normativo ou prescritivo. Em um sentido mais estrito, a moral diz respeito aos costumes, valores e normas de conduta específicos de uma sociedade ou cultura”...(Dicionário Básico de Filosofia, Marcondes e Japiassú, 2001.)"...

Quanto a ética, temos:

 ...“Ciência da moral, ou ciência da conduta...Só agimos eticamente quando os nossos interesses pessoais não interferem nos processos desenvolvidos. Isso é fundamental para se pensar as nossas responsabilidades para com os outros, sejam eles, amigos, membros de nossa própria comunidade ou pessoas distantes”...(Dicionário de Conceitos Históricos, Silva e Silva , 2010, apud Singer, 1998.)"...

Os conceitos norteadores da moral são aqueles temporais de cunho cultural produtos de contextos específicos. Geralmente, derivados dos dogmas religiosos e passados oralmente por práticas em sociedade pelo mais velhos, condenando ou aprovando, atos e posicionamentos. Leitores, acreditem, já foi ato admissível e legítimo queimar pessoas em praça pública, apenas por apresentarem modos de vida mais esotéricos, ligados à magia ou a feitiçaria.


A Umbanda que se estruturou por uma amálgama de outras culturas e filosofias, carece de um olhar atento para não ser “julgada” moralmente inadequada e condenável. Se levarmos em consideração a entidade “Exú”, poderíamos ter distintos posicionamentos. Pela ótica judaico-cristã, massificada pelo colonialismo cultural de séculos em nosso país, é condenável  nos relacionarmos com uma entidade/divindade pagã de traços demoníacos,  a medida que pode corromper as virtudes humanas e encaminhar os mortais ao universo dos pecados. Em contraponto, pelos aspectos Nagôs-Iorubás, reverenciar, saudar e estabelecer vínculo com Exú é reafirmar conceitos como: Nascimento; força de criação; equilíbrio; caminhos abertos; proteção; fertilidade, dualidade e  zelo. Com estes exemplos, é nítido que RELATIVIZAR julgamentos morais antes de condenarmos qualquer prática, inclusive nas umbandistas, torna-se fundamental. Há  bibliografia vasta sobre os aspectos sócio-antropológicos de Exú, o trabalho que utilizo como referência até o momento, é a excelente dissertação de mestrado de Oli Santos da Costa - PUC Goiás: “Exu, o Orixá fálico da mitologia Nagô-Yorubá: Demonização e sua ressignificação na Umbanda”.

Quanto à Ética, imperativo é percebê-la como permanente e imutável. Princípio que conduz as ações humanas independentemente dos valores morais envolvidos, pois, a medida que um Estado democrático e laico existe - não somente na teoria - qualquer conjunto parcelado da sociedade, apesar de praticar conceitos morais específicos, deve sempre primar pelos fundamentos éticos universais estabelecidos.  
Na Umbanda a “máxima maior” preconizada como objetivo principal, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, foi a CARIDADE. Logo, caridade, não é abstrata ou subjetiva, é afirmativa e determinante. Por exemplo: não viver da Umbanda, mas sim para ela; não interferir no livre-arbítrio alheio; não cobrar por trabalhos espirituais; atender a todos sem distinção de raça, credo ou opção sexual.
Para que a caridade espiritual ocorra, é necessário muito autocontrole para  não incorremos ao desmonte de privilegiarmos nossos interesses em detrimento da comunidade ou do bem comum. E quem sabe até dos nossos próprios egos.

Temo pela ética, nestes tempos onde um moralismo disfarçado de bons costumes determina um civismo inexistente. Temo pela ética, nestes tempos em que a moral  sobrepõe às práticas honestas de interesse do  bem comum. A começar pela Umbanda... 
Como diria o Caboclo Mirim em suas instruções:

…”É perigoso dar consulta, pois no mo­mento da consulta você assume uma responsabilidade espiritual séria con­sigo mesmo...”

         ...“A Umbanda tem fundamento e é coisa séria, para quem é sério ou quer se tornar sério!”...

 

OBS.: Esse texto foi elaborado como parte de uma colaboração para o projeto Revista do Leitor Umbandista, 2ª edição -Julho/2018, em conjunto ao Blog do Leitor Umbandista.